Arquivo da categoria: poesia portuguesa

A salvação do mundo

Não existe num verso nada de útil à salvação do mundo.
O poema não pode ter mais que uma casa, paredes
caiadas de branco, os azulejos a rebaterem o sol contra
a sombra, dizendo-lhe o seu lugar. O poema é o meu pai

em sofrimento na cama do hospital, as mãos inúteis que
lhe afagam a dor, estas mãos tão inúteis percorrendo os
versos ao som das palavras. O poema é circunstância de lugar

em imagens atiradas ao chão, reduz à sombra o sol. A casa
essencial, a do poema, memória e salvação de um homem.
O mundo é útil de poesia. Todos os versos são possíveis.

(poema de jorge reis-sá, à página 17 do livro “biologia do homem” – escrituras, 2005)

jorge reis

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