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Prefácio

Quem fez esta manhã, quem penetrou
À noite os labirintos do tesouro,
Quem fez esta manhã predestinou
Seus temas a paráfrases do touro,
As traduções do cisne: fê-la para
Abandonar-se a mitos essenciais,
Desflorada por ímpetos de rara
Metamorfose alada, onde jamais
Se exaure o deus que muda, que transvive.
Quem fez esta manhã fê-la por ser
Um raio a fecundá-la, não por lívida
Ausência sem pecado e fê-la ter
Em si princípio e fim: ter entre aurora
E meio-dia um homem e sua hora.

Poema de Mário Faustino publicado à página 71 do livro “O homem e sua hora e outros poemas” (Cia das Letras, 2002)


poesia-revolução

Arthur Rimbaud

o que aprendemos com arthur rimbaud, na perspectiva de mário faustino:

1 a partir do momento em que o poeta constrói uma poesia nova, sua poesia, é melhor calar que repetir-se ou limitar-se a explorar cambiantes de uma expressão pessoal. melhor calar que facilitar-se. mesmo porque, por outro lado, a poesia, em seu processo de autopurgação do prosaico, tende ao silêncio, à página em branco;

2 o pior inimigo do artista é o aburguesamento. sinais de aburguesamento: repetição dos outros, auto-repetição, amor da solução fácil, autocontentamento, cosmossatisfação, compromissos, concessões ao “gosto” do público e dos críticos., obras de arte feitas para agradar (naturalmente, estamos falando do artista adulto. no período de formação, o jovem poeta deve repetir para aprender; todavia, fique sempre claro tratar-se de aprendizagem,e que se passe logo que possível para o laboratório e, finalmente, para a descoberta, a criação e a pregação do novo);

3 só interessa o grande e o novo; melhor não ser do que ser poeta menor ou poeta maior frustrado: na arte, (…), só permanecem os que têm terreno próprio, os que descobriram uma espécie nova, mineral, vegetal ou animal, os que empurram a língua e o mundo para a frente.

4 poesia é instrumento, não é fim; com a poesia, fazem-se objeto, que se doam aos homens; com a poesia torna-se a língua mais eficiente, mais rica, mais adaptável às necessidades contemporâneas; a poesia é meio de conhecimento do universo e de comunicação com os homens; a poesia é, em todos os sentidos, instrumento de revolução.

concordo particularmente com o primeiro ponto: melhor calar-se a se repetir.

há um verso meu que caminha nessa direção: “melhor ficar calado a ter voz de mudo”.

coisas assim.

os quatro pontos-síntese acima podem ser encontrados de forma mais contextualizada no capítulo poesia-revolução: arthur rimbaud, do livro “artesanatos de poesia: fontes e correntes da poesia ocidental”, organizado por maria eugenia boaventura e publicado pela cia das letras em 2004.