Arquivo do mês: abril 2015

um poema de arnaldo antunes

publicado no livro “dois ou + corpos no mesmo espaço” (iluminuras, 1997) e disponível  no site oficial dele.

poema de arnaldo antunes


Leitura, literatura e mídia

post facebook simpósio Mestrado


Dentro da memória

A memória é pedra.

Pedra dentro da perda,
que o tempo iguala.

Ele – o que é, sem sê-lo –
arde aos ossos do frio,
às fímbrias do gelo.

Os mandatos da espera
cumprimos.

Às leis do tempo lutamos,
sabedores da sentença.

Mas o tempo dorme
sem toga o gravata.

(poema de jaime vaz brasil, à página 36 do livro “inventário de chronos” – WS editor, 2002)

Angústia

Não vim domar teu corpo esta noite, ó cadela
Que encerras os pecados de um povo, ou cavar
Em teus cabelos torpes a triste procela
No incurável fastio em meu beijo a vazar:

Busco em teu leito o sono atroz sem devaneios
Pairando sob ignotas telas do remorso,
E que possas gozar após negros enleios,
Tu que acima do nada sabes mais que os mortos:

Pois o Vício, a roer minha nata nobreza,
Tal como a ti marcou-me de esterilidade,
Mas enquanto teu seio de pedra é cidade.

De um coração que crime algum fere com presas,
Pálido, fujo, nulo, envolto em meu sudário,
Com medo de morrer pois durmo solitário.

stéphane mallarmé
(poema de stéphane mallarmé, veiculado pelo site escritas.org)

hoje acordei pensando em ginsberg

dos poetas que foram (deveria dizer “são”?) essenciais à minha formação literária, allen ginsberg ocupa, com muita tranquilidade, lugar de honra.

pela poesia, evidentemente, mas também pela postura enquanto poeta.

com ele aprendi que poesia é coisa muito séria, em particular quando releva ao mundo este estado tão poderoso quanto delicado que bergson chamava desde há muito de alma.

não sei porque, mas hoje acordei pensando em allen ginsberg.

e aí eu encontro na web, em PDF, o poema “uivo“, que a tantos marcou.

abaixo, um trecho.

“Eu vi os expoentes da minha geração destruídos pela loucura, morrendo de fome, histéricos, nus,
arrastando-se pelas ruas do bairro negro de madrugada em busca de uma dose violenta de qualquer coisa,
hipsters com cabeça de anjo ansiando pelo antigo contato celestial com o dínamo estrelado na maquinaria da noite, (…)”

às vezes a gente acorda diferente.

allen-ginsberg


sobre a poesia concreta

a poesia concreta sempre foi cara ao meu processo criativo.

em particular porque, por meio dela, pude dar voz ao silêncio do branco entre os versos, dialogar com as margens, permitindo a estes algum barulho, também, e quebrando a hegemonia da palavra quando o assunto é dizer em versos.

e é por isso que fiquei feliz em encontrar o site “poesia concreta – o projeto verbivocovisual“, que sintetiza o que é a poesia concreta, esta brasileira a um tempo tão ilustre e incompreendida, e seus principais momentos/autores.

vai lá. confere.

vale a pena.

poesia concreta


carpinejar está mentindo

passaram-se 17, 18 anos desde a primeira vez e ainda hoje não sei se gosto dele, apesar das palavras.

o amor tem dessas coisas, não há o que ser feito.

mas o fato é ninguém desconfiou que o outrora fabrício, aquele cuja morte acaba de ser revelada pelo bufão do carpinejar, está vivo. e de volta.

melhor dizendo: fabrício não morreu de morte matada, ou morrida. quem morreu foi outro fabrício.

explico.

depois de ter criado o personagem carpinejar de unhas pintadas a partir de um fabrício de terno e gravata, e se transformado no primeiro (eu havia cantado esta pedra havia muito), a ponto de perder o controle, o cara que também se chama carpinejar acaba de anunciar a morte de um morto.

leia o texto; tire suas próprias conclusões.

a julgar pelas palavras, dá pra pensar que é isso mesmo; que quem manda no pedaço,  mais do que nunca, é, definitivamente, carpinejar, e que os ternos e fatiotas do fabrício permanecerão onde foram guardados há quase duas décadas: no armário.

é possível, claro.

quer me parecer, no entanto, que estamos testemunhando o nascimento de um novo personagem.

até pode ser que não se chame fabrício, como aquele dos ternos, gestos e versos invejáveis que conhecemos ali atrás, pois que morto está, como anunciado.

é possível.

assim como é possível que este novo ser venha com uma sede notável de versos, dado o longo estio.

aí neguinho, é comemorar.


antologia seleciona autores

Antologia


obra completa de césar vallejo em PDF

olha que legal: o blog holismo planetário de la web traz a obra completa do poeta peruano césar vallejo.

a edição, de 1968, é a dirigida por georgette de vallejo e realizada aos cuidados de aberlado oquendo lima.

pela francisco moncloa editores.

acesse por aqui a obra poetica.

cesar vallejo


entrevista com haroldo de campos: 1996

a internet e seus achados.

no registro, do youtube, de 1996, entrevista com haroldo de campos.

é longo – 1’28 – mas vale muito a pena.

a sinopse do programa:

“O entrevistado deste Roda Viva de 1996 é o poeta, ensaísta e tradutor Haroldo de Campos, falecido em agosto de 2003 e reconhecido internacionalmente como um dos mais importantes poetas brasileiros. Formado em Direito pela Universidade de São Paulo em 1952, Haroldo fundou no mesmo ano com Augusto de Campos e Décio Pignatari o Grupo Noigandres, de poesia concretista. Em 1958, os três poetas publicaram o ‘Plano-Piloto para Poesia Concreta’. Considerado o ‘mais barrocos’ dos concretistas, Haroldo de Campos tem sua obra poética intimamente ligada ao movimento que mudou o panorama poético e literário brasileiro. A crença em uma ‘crise no verso’ o levou ao experimentalismo, à busca de novas formas de estruturação e sintaxe, em curtos poemas-objeto ou longos poemas em prosa. Trabalhou como tradutor, crítico, teórico literário, e foi professor titular do curso de pós-graduação em Comunicação e Semiótica da Literatura na PUC/SP. Em 1992 foi laureado com o Prêmio Jabuti de Personalidade Literária do Ano; em 1999 o Prêmio Jabuti de Poesia foi conferido para seu livro ‘Crisantempo: No Espaço Curvo Nasce Um’.”